Entrevista com o Fundador

Para que o leitor possa compreender os motivos do movimento que ora se inicia - o Movimento dos Sem Direitos (doravante MSD) - entrevistamos o fundador, Sr. Asplênio Ávaro, que nos explicará as origens e as intenções deste que se mostra um dos maiores movimentos sociais já iniciados no Brasil.

ENTREVISTADOR (E): Bom dia, Dr. Asplênio!
ASPLÊNIO ÁVARO (AA): Bom dia.

(E) - O MSD fundado pelo senhor veio a existir por quais razões?
(AA) - Bem, nós estamos vendo sucessivos governos dizerem que defendem as minorias. Numa hora temos o movimento gay pleiteando o direito de não ser criticado, noutra hora vemos os índios buscando direitos de terem devolvidas suas terras formando um país dentro do país, noutra hora ainda, vemos os esfriadores do clima pleiteando direitos de evitar que as pessoas peidem em paz p.ex., então, resolvemos sair na luta pelos nossos direitos também. Mas há um reparo a faz...

(E) - E em que consistem esses direitos?
(AA) - Bem, nossos direitos consistem na defesa da maior minoria brasileira, os avarentos-egoístas que, em suma, é a minoria mais aviltada, mais oprimida e mais discriminada deste país. Mais até do que os gays, as lésbicas, os religiosos, os índios, os sem-terra, enfim, mais do que qualquer outra classe.

(E) - Em que sentido o senhor vê a opressão?
(AA) - Em muitos, muitos! Veja. O governo cobra impostos direta e indiretamente de todas as pessoas, inclusive de nós. Usa esse dinheiro para fazer o que nós, como avarentos, não queremos, e isso gera opressão. Temos que pagar pelo quê não queremos e, depois, gastamos em remédios anti-depressivos. Isso é despesa. Vou dar outro exemplo para clarificar o entendimento. Digamos que um rapaz queira fazer uma operação de mudança de sexo. Ele me procura e pede auxílio financeiro. Como avarento, não concordarei com a operação pois gerará uma despesa enorme: cirurgia, hospital, medicamentos, médicos, anestesista, internação e isso sem contar com os gastos pós-cirúrgicos, como p.ex. implantes de silicone, hormônios femininos e mais os acessórios femininos que o sujeito passará a usar, como brincos, batons, maquiagem, etc. Terá que trocar praticamente todo o guarda-roupa, e isso gera despesa. Assim, como avarento, eu indicaria meu vizinho socialista, p.ex., para que ele pedisse o auxílio lá. Afinal, os socialistas defendem a tese que é um direito do cidadão mudar de sexo e usam dinheiro público para isso. Mas nós avarentos não concordamos com essa despesa desnecessária, portanto, não queremos que nosso dinheiro seja usado para essas coisas. Quando vemos que o governo não dá atenção à opressão que sentimos, quando somos obrigados a pagar impostos para esse tipo de procedimento, ficamos deprimidos, que é um dos principais sintomas da opressão.

(E) - Como os avarentos pretendem sustentar esse movimento?
(AA) - Nós contamos com o apoio do MSD - Movimento dos Sem Direitos - que nos tem ajudado muito sem cobrar nada. Se cobrasse, não aceitaríamos apoio algum, claro. Mas como nos sentimos sem direitos também, aceitamos de bom coração o que nos ofereceram. Um de nossos lemas é: Braços abertos e mãos fechadas.

(E) - O quê eles ofereceram?
(AA) - Apoio técnico, logístico, financeiro e moral. Eles entendem que nós somos a maior minoria do país, a mais discriminada e a que mais sofre preconceito. Sim, sofremos preconceito de todos os lados. Alguns religiosos não nos olham com bons olhos, e os políticos vivem nos cercando com ameaças fiscais, dizendo que seremos presos por conseguirmos usar a lei para reduzir o imposto que somos obrigados a pagar, o quê, como já disse, gera depressão e nos obriga a gastar com antidepressivos. Isso é um absurdo que precisa acabar neste país!

(E) - Em que consiste o apoio logístico? O senhor poderia nos falar um pouco sobre isso?
(AA) - Perfeitamente. Nós avarentos sempre andamos de carona, o que evita despesas desnecessárias. Assim, nem sempre podemos chegar às reuniões no horário marcado, o que gera despesas extras com cafezinho, água e biscoitinhos para os que já estão presentes à reunião. Os progressistas costumam nos discriminar nas caronas, veja só! Andam em carros públicos que nós ajudamos a comprar e não reservam nem um lugarzinho para as minorias como nós, o que gera depressão, conforme eu disse antes. Assim, o MSD, que é composto por altruístas, resolveu investir em nós fornecendo um fusca com motorista para nos apanhar em algum quarteirão perto de nossas casas e nos levar às reuniões. Esse é o apoio logístico, o qual agradecemos publicamente.

(E) - Como os avarentos pretendem conseguir mudanças na legislação que os beneficie?
(AA) - Esta é uma questão complexa. Nossa proposta é muito ampla e abrange mudanças na Constituição Federal, inclusive. É chegada a hora de provarmos se o que os socialistas dizem é verdade ou mera retórica eleitoreira. Se defendem as minorias como dizem, propomos que sejam extintos os códigos legais e que nossa constituição contenha apenas um artigo genérico, o que evitaria despesas inúteis ao estado. Com isso, teríamos condições de usar a nova condição constitucional para, sem despesa alguma, termos uma legislação que contemple plenamente os direitos de todos os cidadãos, inclusive os nossos. Tudo isso evitaria despesas que hoje aniquilam qualquer país.

(E) - E como seriam as leis, então? Não haveria mais legislação federal?
(AA) - Exatamente. Cada cidadão teria o direito de ser o autor de seus próprios códigos legais: código civil, penal, tributário e trabalhista.

(E) - Mas isso não geraria uma confusão completa no país?
(AA) - Jamais! Confusão é o que temos hoje: um monte de leis que ninguém conhece e que torna o cidadão comum um criminoso a qualquer estalar de dedos do governante de plantão. Como diria meu professor de Trigonometria Sustentável: Quem conhece todas as leis, levante a mão! Ninguém conhece. Assim, para evitar essa possibilidade de opressão que gera despesa, como já falei, cada cidadão faria seu próprio código de leis. Isso sim é resgatar o direito das minorias. Quer minoria mais expressiva do que o indivíduo singular? Esse projeto evita despesas com políticos, que são os principais responsáveis pelas despesas inúteis do país.

(E) - Mas isso é anarquismo, não? 
(AA) - De forma alguma! Anarquistas não aceitam poder algum. Esse sistema aceita o poder central definido na Constituição. A Carta Magna conteria apenas um artigo dizendo: "Art. 1o - Todos os códigos individuais são válidos neste país. Parágrafo Primeiro - É direito do cidadão fazer suas próprias leis desde que não interfira nas leis do vizinho nem nesta Constituição. Paráfrafo Segundo - É dever do cidadão preservar esta Constituição e não fazer leis que com ela conflitem. Parágrafo Terceiro - Todo indivíduo nascido em território brasileiro é cidadão brasileiro e tem todos os direitos garantidos nesta carta. Parágrafo Quarto - Todos os anos os cidadãos devem escolher o cidadão que representará o país perante o exterior. O eleito está obrigado a seguir as regras gerais médias dos cidadãos legisladores e não receberá salário. Parágrafo Quinto - As leis individuais têm valor somente dentro do território do legislador e não podem ser feitas de imediato para conflitar com as leis do vizinho. Parágrafo Único - Ficam revogadas todas as disposições em contrário". - De maneira simples, direta e barata todo indivíduo tem direitos e ninguém mais terá que pleitear direitos no Congresso Nacional, que deixa de existir como é para ser formado por todos os cidadãos deste país, inclusive os sem direitos. Acabam-se os lobbys, as falcatruas, as negociatas, corrupção, desmandos, tudo de uma só vez e sem despesa! O que é mais importante.

(E) - Permita-me uma questão, então. Se o senhor precisasse de um serviço, p.ex., como ficariam as relações de trabalho, pagamento, cobrança, etc? Parece algo bem complicado de se resolver da forma como o senhor propõe.
(AA) - Perfeitamente, vou explicar e você entenderá como é muito mais simples. Digamos que meu jardim precise ser aparado. Faço uma placa e coloco-a visível com os seguintes dizeres: "Aceito serviço gratuito para aparar meu jardim". Se isso ocorresse com a nossa legislação, haveriam os problemas trabalhistas, as despesas de serviço, enfim, coisas que os avarentos evitam. Da nossa maneira isso seria resolvido sem preocupação alguma, que, como já disse, gera depressão e mais despesas. Digamos que, no mesmo dia, apareça alguém para fazer o serviço. O contrato já foi explicitado na placa. O sujeito corta a grama e, ao final, cobra-me pelo material - que não está no contrato da placa, diga-se -, gasolina da roçadeira, uma lima gasta para amolar as facas, etc. O serviço tem que ser gratuito, e nisso ele concorda. Mas eu não concordo com o preço cobrado pelo material. Ele tem as leis dele e eu as minhas. Então, ele diz que, p.ex., gastou R$25,00 de material e em seu código eu sou obrigado a pagar. Eu respondo que isso é justo e vou buscar meu código. Pela minha lei, qualquer coisa que exija pagamento me dá o direito de exigir compensação, que estabelece como valor, a despesa acrescida de 10%. Sendo R$25,00 a despesa cobrada, tenho a receber R$27,50. Ele pode retrucar que suas leis são diferentes das minhas, mas ele terá que concordar que suas leis só valem para o seu território, e ele está no meu território, conforme a Constituição. Ele me deve, e não eu a ele. Assunto resolvido, e sem despesa alguma. O máximo que ele poderá fazer é dizer que me paga depois - se eu concordar - e não aparecer mais. Como não vou ao território dele para cobrar, porque lá vigoram as leis dele, tudo fica como foi combinado na placa contratual. Simples, rápido e sem despesa alguma, nosso objetivo maior.

(E) - Isso parece ser muito perigoso, gerando conflitos todo tempo, não?
(AA) - De maneira alguma! Veja que o governo faz isso hoje e ninguém reclama! As leis que deveriam ser para todos só funcionam contra todos, nunca a favor. E isso gera despesas inúteis. Do nosso jeito é muito mais simples e, se houver despesa, será só a que o cidadão quer ter. Jamais haverá rombo no erário.

(E) - Senhor Asplênio, isso ainda parece confuso e perigoso. Explique melhor para os nossos leitores.
(AA) - Perfeitamente. Digamos que eu tenha comido um pastel estragado na rodoviária e esteja cheio de gases. O mínimo que penso é: Preciso peidar senão explodo. Muito bem. Devido à quantidade de leis que nos regulam a vida, eu não sei se posso peidar alto, então, me resguardo, procuro um canto e peido baixinho. Devido à característica que têm os gases de ocuparem o maior espaço possível em sua expansão, um guarda próximo, que eu não vi, sente o aroma e me multa. Não por peidar baixinho, mas apenas por peidar e poluir o meio ambiente. Eu não sei se existe tal lei e, na verdade, nem o policial sabe. Mas com tantas leis conflitantes vigorando, pode ser que exista uma que me impeça de peidar em praça pública, ou o policial quer me multar porque se incomodou com o cheiro. Então, sou multado, tenho despesas e ficarei deprimido, cujas consequências já falei anteriormente. Do modo avarento, alguma coisa muda. Uma vez que o cidadão já sabe qual lei deve obedecer, a qual será sempre conhecida dele mesmo, se todos tiverem uma lei própria a confusão se resolve imediatamente, não? Veja: de acordo com a Constituição, se eu estiver diante de uma casa, o território é do dono da casa e só ele poderá me multar se suas leis disserem assim. Como eu não posso fazer uma lei de imediato para contestá-lo, serei obrigado a pagar uma multa a ele. Mas, vou convidá-lo a receber o dinheiro em meu território, assim valerá a minha lei de compensação, conforme expliquei há pouco. O máximo que pode ocorrer é ele não aparecer e eu esquecer a dívida dele, e tudo acaba bem. E, como já expliquei, sem despesas.

(E) Em caso de conflitos legais, como ficam os julgamentos?
(AA) - Da mesma forma que são hoje: sem solução. Ou vai dizer que hoje os conflitos que mais interessam ao cidadão são resolvidos a favor dele? Nunca! Jamé jacaré! O sujeito entra em juízo e sabe que, talvez, algum descendente seu consiga ter uma sentença. Assim mesmo, será contra ele. Então, para quê precisamos do judiciário? São despesas, meu amigo. Despesas desnecessárias. Estamos certos de que a Avareza, com maiúscula mesmo, será a salvação do Brasil. Tanto no âmbito econômico quanto no social.

(E) - Senhor Asplênio, agora ficou mais confuso ainda. Por favor, explique isso para nós.
(AA) - Perfeitamente. Com o tempo poderemos tornar mais claros os nossos pensamentos e, estou certo, a população vai aderir, pois entenderá que será grandemente beneficiada. Voltemos ao tema. Sabemos que quem conserva poupa, quem poupa tem e quem tem não precisa comprar outro. Ora, se todos deixam de precisar, é sinal que todos têm. É a solução para o problema da desigualdade.

(E) - E quem não tem, vai conservar o quê?!
(AA) - Exatamente o que não tem, por isso todos são iguais. Mas pode vir a ter, lembre-se disso! Afinal, não propomos a extinção dos progressistas altruístas. Apenas queremos que eles dêem a quem quiser apenas o que é deles. Isso implica que eles sustentarão os que não têm, mas não com o nosso dinheiro. Sei que, nesse momento, os preconceituosos estarão nos criticando, mas sem razão. Explico. Nós somos minoria, embora sejamos a maior minoria do país. Assim, a maioria socialista ainda poderá pagar impostos; e eles serão obrigados pelas próprias leis deles, não pelas nossas, a sustentar toda a burocracia que inventarem. Como serão apenas os progressistas que sustentarão as despesas que eles mesmos criam sem necessidade, serão reconhecidos como heróis. Mas, a bem da verdade, só serão heróis por nossa causa, devido às nossas propostas. Até hoje, eles jamais aceitaram essa idéia, por que seriam heróis sem nós, então? Não, os salvadores da pátria são os avarentos, como expliquei há pouco. Se nossas propostas forem levadas a sério, teremos um mundo melhor, porém, real, não utópico como eles querem. E ainda poderemos salvar o país das crises internacionais.

(E) - Embora pareça um pouco mais claro, ainda é muito difícil pensar dessa forma, o senhor não acha?
(AA) - Não, de forma alguma! Veja. Para eles, socialistas, progressistas, comunistas, nazistas, fascistas, etc, há um mundo melhor no futuro mediante concentração de poder através de uma revolução, que não se sabe como termina, senão com despesas e mais despesas. Só sabem que é preciso uma revolução. E, como sabemos, revoluções geram despesas desnecessárias, coisa que queremos extirpar da vida cotidiana, pois geram depressão que gera opressão com as despesas decorrentes. Esse mundo melhor do futuro é garantido, tudo conduz a esse futuro, segundo eles. Para nós, isso é bobagem que só gera confusão que gera despesa. Raciocine comigo: se o futuro é certo, o presente deve se ajustar ao que está vindo, senão não se encaixará nesse futuro garantido. Isso é a revolução, mas não ela toda. Porém, o passado não confirma a idéia desse futuro melhor pretensamente garantido, então, são obrigados a reescrever todos os livros de história para moldar o passado de forma que se adapte aos ideais presentes de modo que se alcance aquele futuro que, como se sabe, nunca será daquela forma porque é incerto, sempre incerto. E, se vier, custará muito caro, e despesa é o que combatemos avidamente. Todos sabem que o passado é imutável, o presente é flexível e o futuro é incerto. Mudar isso gera despesas inúteis que não queremos suportar, por isso lutamos desde já para garantirmos nossos direitos de não participar dessa gastança desmedida e inútil. Avareza já!

(E) - O senhor se considera um conservador, então, já que parece ser contra os socialistas?
(AA)  - Perfeitamente! Mas é preciso explicar que nem todo conservador é avarento, mas todo avarento é um conservador nato, conforme expliquei. Quem conserva poupa, quem poupa tem e quem tem não gasta comprando outro. Aliás, é importante ressaltar que os avarentos são os que mais se encaixam no nosso mundo moderno. Veja. Não somos consumistas, portanto, não geramos lixo. Somos ambientalmente saudáveis, porque só gastamos o mínimo necessário e não poluimos o ambiente, principalmente porque não usamos nossos automóveis. Sempre andamos de carona nos automóveis dos outros, o que gera menos despesas e menos poluição. E, uma vez que defendemos leis individuais, garantimos os direitos de todos. Ora, isso é o que o mundo precisa! E veja, por comermos só o necessário, não geramos tanto gás metano e sulfídrico, o que, por si só, deixa de destruir a camada de ozônio. Veja que até o peido do avarento é mais econômico. Garanto que nem o WWF pensou nisso.

(E) - Parece sensato, mas ainda não está bem claro como isso pode funcionar na prática.
(AA) - É simples. Vamos falar dos defensores dos direitos animais. Existe uma classe de pessoas que defende direitos animais. Não se pode matar um coelho para saber se um medicamento salvará uma vida humana. Discordamos disso porque coelhos geram despesas. Mas, digamos que alguém se apaixone por um animal, como já está ocorrendo no mundo moderno. Se essa pessoa quiser, digamos, contrair matrimônio com uma minhoca, p.ex., terá que esperar até que o Congresso faça uma lei que lhe dê esse direito. Isso demora muito tempo e gera muita despesa. Com a legislação individual, o problema está imediatamente resolvido. O cidadão pode fazer uma lei imediata para resolver um problema particular imediato, desde que não seja para contestar a lei de um vizinho, conforme a Constituição. Então, ele poderá instituir o casamento com a minhoca amada e ninguém poderá incomodá-lo. Você quer mais liberdade do que isso? Impossível, meu jovem. Impossível. Somente o sistema Ávaro®© funciona a contento para todos os seres humanos, inclusive para os animais.

(E) Mas e se alguém quiser continuar matando coelhos para experiências, como fica a situação? Haverá punição?
(AA) - Não entre os avarentos. Aliás, podemos premiar quem faz esse tipo de pesquisa. Será um prêmio simbólico, invisível, claro, para não gerar despesas. Um coelho de laboratório gera despesas imensas, que acabam refletindo no preço final dos remédios. E veja, todos pagam por isso. Se entre eles houver uma matança de coelhos, o preço final dos medicamentos cairá a níveis baixos, o que tem nosso total apoio. Por isso dizemos que podemos evitar que o país caia em crises econômicas internacionais. Bem, há uma exceção. Entre os progressistas altruístas, que sempre usam dinheiro alheio para seu próprio benefício, pode haver alguma crise, sim. Mas observe que não afetará a todos, como hoje acontece. Os avarentos estarão livres desse problema, pois conservam, poupam, têm e não precisam temer a falta de nada.  Ainda poderemos auferir algum lucro com a crise alheia, pois só nós teremos o que eles precisarão e poderemos, segundo nossas leis individuais, estabelecer o preço que quisermos.

(E) - Mas isso, convenhamos, quebra o mercado. E a lei da oferta e da procura? 
(AA) -  Boa pergunta. Em nosso sistema de leis individuais, a lei da oferta e da procura será extinta, o que, de certa forma é um dos objetivos dos socialistas, não? Eles querem regular o mercado da maneira deles, e cada um faz o que bem entende. A diferença é que todos nós, indistintamente, somos obrigados a pagar pelos erros que cometem, e isso gera despesas imensas, o quê não gostamos nem queremos. Veja que somos muito mais amigos do povo do que eles. Se eles fazem as leis da maneira deles, também poderemos fazer as nossas. O poder emana do povo, não?

(E) - Agora ficou confuso novamente, senhor Asplênio. Explique melhor o conceito de poder em seu sistema Ávaro, por favor.
(AA) Perfeitamente. É muito simples. Nossa Constituição diz que o poder emana do povo e em seu nome é exercido. Mas ninguém vê alguém exercendo esse poder da forma que desejou quando elegeu alguém. Os anseios da população são relegados a segundo plano, o quê gera despesas imensas em viagens de políticos para lá e cá, além de outras dos cidadãos oprimidos. Pensamos da seguinte forma: se o poder emana do povo, então o povo tem poder. Caso contrário, não poderia emanar coisa nenhuma. Se o político tem mais poder que o povo, alguma coisa está errada nessa história, não acha? Ora, como o povo pode dar um poder que não tem? Nossos políticos têm poder demais, que o cidadão não tem. Mas se o poder emana desse cidadão, como esse cidadão não tem o mesmo poder? São poderes diferentes? Não. Têm naturezas diferentes? Não. Então, como fica? Por quê um político pode fazer uma lei que tire a minha liberdade de não pagar um imposto que não quero? Ficou claro agora como os avarentos são discriminados até pelos governantes, que dizem lutar pelos direitos das minorias? Pura mentira, não lutam coisa nenhuma. Nós avarentos nunca somos lembrados. Não há uma só lei que nos garanta o direito de não pagarmos ao governo o que não queremos. Nosso Sistema Ávaro®© é um sistema libertador. Avareza Já!

(E) - Como um governo pode sustentar-se, senhor Asplênio? 
(AA)  - Veja só como já confundiram as cabeças deste país. Por quê precisamos de um governo que dite as regras sobre como devemos regular nossas vidas?

(E) - Mas o governo não faz isso!  
(AA) Como não?! Há pouco não editaram uma lei que obriga os motoristas a transportarem crianças somente em cadeirinhas? Isso não é ditar as regras de como regular a própria vida?

(E) Mas isso é segurança para todos, não interferência na vida particular.
(AA) Rapaz, você já perdeu o fio da meada. De quem é o carro e de quem é a vida?

(E) Suponho que sejam seus. 
(AA) Exatamente, vamos pensar assim, embora carros gerem despesas. Se o carro é meu, quem manda nele? Eu, claro. Se eu quiser correr o risco de um acidente fatal, o problema não é somente meu?

(E) - Em teoria, sim. Mas e as despesas de hospital? Se o senhor for tratado na rede pública, todos pagam pelo seu descaso. E se houver outras vítimas?
(AA) - Por isso mesmo o Sistema Ávaro®© resolve o problema. Do jeito que está, todos compartilham das despesas de um acidente no qual não tomaram parte. A sociedade é culpada pelo meu acidente? Claro que não! Então, por quê ela deve pagar por mim? E pior, por quê devo pagar pelos erros dos outros? Isso é pura injustiça. Esse negócio de todos contribuirem só tem gerado despesas inúteis, desnecessárias. E pior, gera despesas para quem não pode pagar também, você sabe. Aquele que não tem porque não conservou tem que pagar impostos do mesmo jeito. Se houver outras vítimas, vigoram as leis individuais. A maioria dos indivíduos tem entendimento do que é bom e do que não é, do que é justo e do que não é. Isso funciona no Sistema Ávaro®© perfeitamente.

(E) - E no caso de alguém ser pego numa hora difícil, sem dinheiro, vai morrer no hospital?
(AA) - É o preço pelo risco, meu jovem. Um avarento jamais corre riscos desnecessários. Se eu sei que posso ter uma despesa desnecessária, farei o possível para evitá-la. Se eu quiser, compro a cadeirinha. Se não quiser comprá-la, levo meus filhos sem cadeirinha. Lembrando que avarentos geralmente não andam em carro próprio. Assim, se eu tivesse alguma despesa, seria só com a cadeirinha, nada mais. Percebe como nosso Sistema Ávaro®© é muito mais simples e econômico? Além de ser muito mais justo, também.

(E) - É, parece que há algo de correto em seu pensamento, mas ainda tenho dúvidas e penso que os leitores deste blog também têm.
(AA) - Darei outro exemplo, então. Veja o caso da lei antifumo.

(E) - Avarentos também fumam? Não dá despesa?
(AA) - Claro que dá. Quando fumamos, geralmente, fumamos Simidão com filtro, que sai muito mais em conta. Charutos cubanos custam muito mais caro, você sabe, e não é do nosso feitio gastar desmesuradamente. Mas vamos ao exemplo. Digamos que eu compre uma lanchonete pelas leis atuais. Pago pelo negócio, pago para abrir o negócio, pago para manter o negócio, pago imposto territorial, pago imposto no que compro para manter o negócio, pago direitos trabalhistas, pago imposto sobre a folha de pagamento, pago taxa de limpeza, taxa de iluminação, enfim, pago até pela cueca do fiscal que poderá me impedir de trabalhar e pagar sua cueca. Então, vem um 'iluminado' e diz que ninguém pode fumar em ambiente fechado. Ora, o prédio é meu, o negócio é meu, fui eu quem pagou tudo, pago os empregados, pago os impostos, compro tudo com imposto e ainda quem frequenta minha lanchonete não pode fumar lá dentro? Pior, nem eu posso?! Isso é invasão da privacidade, coisa que não acontece no Sistema Ávaro®© de leis individuais. Eu posso ter um negócio próprio e permitir fumantes lá dentro. Deixo bem avisado que só deve entrar quem não se incomoda com fumaça. Afinal, minhas leis valem somente em meu território. Se o cidadão aceitar minhas regras, entrará e será bem atendido, porque quero que ele volte. Se o sujeito não tolera fumaça, que procure outro lugar onde seja proibido fumar. Quem manda na propriedade é o proprietário. Esse negócio de função social só gera despesa inútil e desnecessária. Por isso somos contrários a isso tudo. Note que todas essas leis imbecis só geram despesas também imbecis, além de tirarem a liberdade do indivíduo decidir o que quer, onde quer e quando quer. Mas todos têm que pagar os impostos, e isso oprime os avarentos. Nós vamos mudar esse paradigma de preconceito e discriminação contra nós. Assim que a população conhecer nossas propostas, isso tudo vai mudar.

(E) - Os Avarentos pretendem montar um partido político?
(AA) - Não, se isso gerar despesas desnecessárias. Se algum progressista altruísta que, como sabemos, gasta o dinheiro dos outros, quiser nos patrocinar nessa empreitada, ficaremos eternamente gratos, desde que não gaste o nosso dinheiro. E veja que eles serão os maiores beneficiários da nossa proposta, como já expliquei há pouco.

(E) - Da forma como o senhor apresenta as propostas parece que os progressistas manterão Congresso, Executivo e Judiciário funcionando normalmente. Isso não divide o país?
(AA) - De forma alguma! Eles poderão fazer qualquer coisa segundo as leis individuais, mas essas leis que fizerem, bem como as despesas que gerarem, só obrigam a eles e a ninguém mais. Se quiserem manter um Congresso, com políticos custosos, que viajam pra lá e pra cá gastando dinheiro, que fazem leis estapafúrdias como as que citei e inúmeras outras que só geram despesas e opressão, que mantenham. O problema será exclusivamente deles e a opressão será da conta deles. Veja que nosso Sistema Ávaro®© é totalmente livre, dá liberdade aos cidadãos e não custa nada a ninguém.

(E) - Senhor Asplênio, nosso tempo está acabando, mas ainda quero perguntar: esse sistema não será o caos completo? Cada um fazendo suas próprias leis parece mais com o velho oeste americano, não?
(AA) - De maneira nenhuma! Nem no velho oeste era assim. Observe que entre avarentos a educação familiar é algo imprescindível. Não existem escolas públicas no nosso Sistema Ávaro®©. Cada família é responsável pela criação de seus filhos e, se não os educa corretamente, terá filhos problemáticos que jamais saberão fazer suas próprias leis no futuro. E pior, poderão ser perdulários, o que seria nossa ruína. Então, como não existem despesas com educação fora de casa, podemos ensinar nossos filhos conforme nossos costumes, nossa religião e nossas leis. Já observou que todos os que foram educados em casa são mais inteligentes que os educados em escolas? Isso é o resultado de milênios de prática. Viemos de uma tribo indígena milenar, os Avaromamis, da amazônia central. Ainda vamos pleitear um território só nosso, podem esperar. Esteja certo de que haverá imigração em massa.

(E) - E por falar em religião, os avarentos têm religião?
(AA) -  Tem quem quer. Não é obrigatório.

(E) - E como as religiões vêm os avarentos? Não me parece que apreciam os avaros.
(AA) -  Somos muito mal interpretados nessa questão. As pessoas pensam que não gostamos de ajudar os necessitados porque somos egoístas. Não é verdade. O problema é que não gostamos de jogar dinheiro fora, como faz o governo. Aliás, todos os governos. Uma família necessitada gera muita despesa desnecessária a todos. A burocracia do governo come dinheiro útil que não chega nas mãos dessa família. Quando um avarento decide ajudar, ele o faz com muito menos despesa e sem problemas burocráticos, sem corrupção, enfim, ajuda diretamente.

(E) - O senhor já ajudou alguém, senhor Asplênio?
(AA) - Muitas vezes! Hoje não posso ajudar tanto porque o governo cobra demais de mim e não sobra para a caridade. Quando temos recursos, usamos bem. Muitos amigos meus, avarentos também, ajudavam famílias pobres do nordeste com muito mais recursos que o bolsa-família. A única ressalva é que exigíamos que o sujeito procurasse uma forma honesta de fazer dinheiro em tempo razoável para depois ajudar outros necessitados também. E mantínhamos vigilância severa, sem despesas inúteis. Senão teríamos que sustentá-lo até o fim da vida, e isso geraria despesas desnecessárias. E inúteis também, diga-se. Não sustentamos vagabundos, isso nos oprime porque nos gera despesas imbecis. Quanta gente já saiu da miséria do nosso jeito! Acontece que, além de avarentos, somos egoístas tímidos e não contamos a ninguém nossos feitos de benemerência. Exceto quando isso diminui despesas, como agora por exemplo.

(E) - Como essa entrevista diminuiu despesas?
(AA) - Simples: eu falei para milhões de pessoas e não gastei nem um centavo do meu bolso. E falei muitas verdades contidas no nosso Sistema Ávaro®©, as quais não são frequentemente ouvidas por aí. A verdade ofende. Hoje em dia, com os meios de comunicação que temos, um imbecil qualquer fala uma mentira por trinta segundos na televisão e milhões acreditam nele. Depois gastamos anos provando que não passava de falsidade, mentira, engano mesmo. E, como se sabe, isso gera despesas desnecessárias. Por isso todo avarento também é honesto. Desonestidade gera despesas.

(E) - A desonestidade gera despesas? Nosso tempo está esgotado, mas eu gostaria que o senhor explicasse melhor essa questão antes de terminarmos por hoje.
(AA) - Perfeitamente! Tentarei ser sucinto. Um sujeito desonesto é sempre mentiroso. A mentira obriga o indivíduo a mentir sempre para esconder o malfeito, o que o obriga a gastar tempo e tutano para inventar constantemente uma nova mentira. Tempo é dinheiro, gastar tempo é gastar dinheiro, coisa que não aprovamos. Além disso, nosso cérebro consome ATP, o pacote energético celular, que é consumido enquanto pensamos. Se pensamos muito, consumimos mais ATP, o que nos obrigará a comer mais depois. Comer mais, além do normal, gera despesas desnecessárias, o quê nos obriga a pensar nisso seriamente. Pensar nisso, também consome ATP, e isso acaba num círculo vicioso. Andar em círculos é algo que consome energia, e isso gera despesas desnecessárias, o quê desaprovamos veementemente. Assim, a honestidade sempre sai mais barato. Não precisamos gastar energias úteis para outros serviços em pensamentos que precisaríamos formular para continuar inventando mentiras. Se não perdemos tempo inventando mentiras, também não perdemos dinheiro, porque tempo é dinheiro. Então, para nós, a honestidade é algo que preservamos desde o berço. E, para finalizar, já que o tempo se esgota, caso montemos o PAVE (N.E:: o nome definitivo ainda não foi decidido), a população pode confiar em nós tranquilamente. Não somos corruptos porque corromper gasta dinheiro útil em coisas inúteis com pessoas inúteis. Também não aceitamos corrupção pelo que acabei de expor: honestidade sempre sai mais barato. Já imaginou um avarento pego aceitando propina? E as despesas extras com advogados, peritos e mais corrupção? Não, corrupção não faz parte do nosso caráter porque gera gastos inúteis.

(E) - Bem, senhor Asplênio Ávaro, estamos muito contentes em tê-lo conosco nesta entrevista. Caro leitor, algumas coisas não foram muito bem explicadas e prometemos voltar em outra ocasião para continuarmos a entrevista com o senhor Asplênio Ávaro, o fundador do MSD...
(AA) - Permita-me um reparo de última hora: não sou o fundador do MSD, sou o inventor do Sistema Ávaro®©. Eu também me descuidei no começo, tentei falar assim que você anunciou meu nome, e peço desculpas. Isso não ocorrerá novamente, porque descuidos geram despesas e depressão, e depressão gera despesa.  Agradeço imensamente a oportunidade e me coloco à disposição deste blog para quaisquer outros esclarecimentos desde que não haja despesa alguma para mim. Obrigado a todos os leitores. AVAREZA JÁ! AVAROS UNIDOS, JAMAIS SERÃO VENCIDOS! SEMPRE EM FRENTE QUE PARA TRÁS GASTA MAIS!

(E) - Agradecemos sua atenção e esperamos ter você novamente para as próximas entrevistas. Aguardem! Até lá!

Nota do Editor: Esperamos que esta leitura tenha sido de grande utilidade a você leitor. Nosso objetivo é trazer matérias de interêsse que possam auxiliá-lo a economizar mais, ser honesto e não desperdiçar mais seu dinheiro com coisas inúteis e desnecessárias como políticos safados e mentirosos. É um serviço patriótico de utilidade pública. Almejamos ter cumprido com o nosso dever. Volte sempre.
Este serviço pagou ao governo mais de 35% em impostos que serão jogados fora a qualquer momento. Pagamos uma parte e você leitor, a outra. Lutamos pelo desenvolvimento do Sistema Ávaro®© que poderá nos trazer enormes benefícios práticos e muita economia. Se tiver alguma sugestão, principalmente na área constitucional, envie para nós no espaço apropriado deste blog. Obrigado e até a próxima.